terça-feira, 6 de março de 2007

Eternidade

Há certas coisas na vida que são eternas.
O amor verdadeiro é eterno.
A amizade sincera é eterna.
A paixão por um clube é eterna.
O Palmeiras é eterno.
Engana-se quem acha que o Palmeiras morreu.
O Palmeiras, quando nasceu há 88 anos, já tinha vocação para a eternidade.
Para o palestrino, o Palmeiras é o próprio elixir da vida.
O verde do Palmeiras é pura fotossíntese, é radiação de energia que move uma legião de torcedores.
O verde do Palmeiras é a clorofila indispensável para dar vida a essa química de amor entre a torcida e o clube.
O Palmeiras, é verdade, não tem a maior torcida do Brasil, não é a mais vibrante nem tampouco a mais simpática.
Mas o amor do palmeirense pelo clube, esse, sem dúvida, é o mais intenso que um time pode ter.
Ah, mas e as torcidas de Corinthians, Flamengo, São Paulo, Vasco, Galo, Grêmio, Bahia ?
Ora, essas também são maravilhosas, com seus gritos, suas coreografias, seus hinos e fanatismo.
O torcedor do Palmeiras, no entanto, é único.
Ele sente pelo Palmeiras uma espécie de amor doentio, paranóico, possessivo, algo muita além das quatro paredes, ou melhor, quatro linhas....
O torcedor do Palmeiras é como aquele marido ciumento capaz de tudo.
Contrariado, arregala os olhos esbugalhados, dispara a voz rouca, xinga e ameaça cometer barbaridades indescritíveis.
No entanto, nunca abandona o barco, ao contrário, quando vê o amor de joelhos é o primeiro a estender a mão para reerguê-lo.
No seu amor cego, o torcedor do Palmeiras é movido quase que exclusivamente pelo instinto.
Não à toa, uma parcela da torcida do Verdão, para salvar o time da segundona, até admite a virada de mesa.
O Palmeiras é grande demais, o Palmeiras tem muita tradição, o Palmeiras confunde-se com a própria história do futebol.
É dentro dessa lógica apaixonada e dos laços quase de sangue que unem a torcida e o Palmeiras, que há se entender a súplica dos palestrinos.
Todas as derrotas são dolorosas, umas mais do que as outras.
O choro de um homem, diante do fracasso do time do coração, é algo comovente.
Os estádios estão cheios de torcedores que se esbugalham em lágrimas quando um time é eliminado, perde um título, ou pior.... é rebaixado.
Quem já não presenciou um torcedor tapando o rosto em meio a soluços incontroláveis?
Quem nunca viu um torcedor ajoelhar na arquibancada, e, em transe, debruçar a cabeça no concreto ?
São cenas comuns a corintianos, são-paulinos, santistas, flamenguistas, colorados, cruzeirenses e tantos outros.
Há um retrato, no entanto, que só poderia ser protagonizado por um palmeirense.
Ao assistir a derrota do Palmeiras na final do Mundial Interclubes em 99, o palmeirense Cezinha vestia um terno impecável.
Consolidada a vitória do Manchester por 1 a 0, o homenzarrão puxou a gravata e a usou como toalha tentando enxugar as lágrimas incessantes.
Tal dramaticidade não se vê nem mesmo na ópera La Bohème, de Giacomo Puccini.
Outro torcedor, conhecido como Pêlo, teve a mais espantosa das reações diante do rebaixamento do Palmeiras.
Adotou um silêncio sepulcral, como se estivesse revestido por uma blindagem auditiva.
Foi alvo de todas as provocações, fizeram-lhe todas as pilhérias, foi vítima de risos cheios de dentes.
Mas nada....., não disse uma única palavra, permaneceu absorto, como se estivesse empalhado numa sala de troféus.
Agora que o Palmeiras caiu para a segunda divisão, era de se imaginar que a torcida também fosse para o buraco - escondendo-se como um avestruz.
Mas não, o palmeirense renovou seu amor pelo clube e mais do que nunca promete apoio irrestrito.
Para o torcedor do Palmeiras, não existe fronteira capaz de separá- lo do time - nem mesmo a segunda divisão.

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